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A nossa serra
Conheça alguns dos pontos de interesse da Freguesia.

Baloiço da Serra de Tavira
Estamos em plena Serra de Tavira, no ponto mais alto da Freguesia de Santa Maria e Santiago, a cerca de 500 metros sobre o mar.
O convite que lhe fazemos é o de se sentar neste baloiço enquanto desfruta da vista que se estende da Serra ao Oceano Atlântico.
O Algarve múltiplo:
Daqui pode apreciar o Algarve na sua geografia plural, da qual, os que permanecem apenas junto ao mar quando visitam esta região não se apercebem.
O Algarve apresenta diversidades de paisagem que se associam a três sub-regiões naturais presentes também no concelho de Tavira e nesta Freguesia:
A Serra, cadeia montanhosa que se estende desde o Guadiana (à nossa esquerda) até à Costa Vicentina (à nossa direita). Na parte central e oriental, a nascente, situa-se a Serra do Caldeirão, onde apenas em raros locais se sobe acima dos 500 metros. É precisamente num destes locais que se encontra neste momento.
O seu perímetro a sul encontra-se delimitado pela faixa do Barrocal.
O Barrocal, com solos maioritariamente vermelhos de calcários. Nesta unidade de paisagem, no concelho de Tavira, predominam os pomares de sequeiro – alfarrobeiras (espécie dominante), amendoeiras e figueiras e nas zonas dos cursos de água (Vales da Asseca e de Almargem) encontram-se os pomares de regadio – laranjeiras e horticultura. Estes e outros produtos, que se enquadram na Dieta Mediterrânica, abastecem o mercado municipal de Tavira de legumes e de frutas frescas, reflectindo a produção local de cada estação do ano.
O Litoral, onde se concentra uma grande parte da actividade económica na área dos serviços e que se prolonga no concelho de Tavira por 18 km. Ao longe, no horizonte, encontra-se Tavira, sede deste concelho e primeira localidade do Algarve a ser elevada a cidade por Carta de El-Rei D. Manuel I em 1520, após a fundação de Portugal. É uma cidade com uma longa história ainda muito evidente no seu património cultural, sendo também a comunidade representativa de Portugal na inscrição da Dieta Mediterrânica como Património Cultural Imaterial da UNESCO.
A Serra de Tavira
A Serra de Tavira ocupa cerca de três quartos da área do concelho e encontra-se inserida entre a Serra Alta do Caldeirão a norte e o Baixo Guadiana, à nossa esquerda.
É esta a Serra que convidamos a conhecer e a sentir.
A sua paisagem encontra-se marcada por extensas áreas de matos denominados estevais (cistus ladanifer), vegetação que se caracteriza por uma elevada capacidade de adaptação e de resistência. Quando em flor, a esteva assume uma beleza única que merece o nosso olhar demorado . A resistência que caracteriza esta planta encontra-se também presente nas comunidades que neste território habitam.
Em termos históricos, as ocupações da Serra no período medieval desenvolvem-se pela importância da pastorícia e, na verdade, este “mundo rural na época medieval manteria também relações de interdependência com o litoral, com o fornecimento de mato e de lenha, alimentando a cidade de Tavira, quer através da produção de carvão, quer para o consumo das cozinhas urbanas, e aquecimento das habitações.” (Corvo e Santos, 2010: 168).
A Serra de Tavira foi integrada no concelho de Tavira por D. Manuel I, que a fez pertencente à Câmara de Tavira em 1502. Neste período, a Serra contribuiu com os seus recursos naturais, por via do fornecimento de mato no âmbito da construção e da reparação naval, actividade importante para Tavira a partir do século XV, quando o seu porto se transformou em local de circulação e de abrigo de navios.
Alguns séculos mais tarde, o Alvará Régio de 13 de Março de 1772 no reinado de D. José (1750-1777) veio reconhecer aos habitantes dos seus montes o pleno domínio das casas por estes habitados e a cedência das terras aos que ali residiam, havendo relatos de que, algumas décadas depois, grande parte da Serra estava coberta por figueiras, oliveiras, amendoeiras, alfarrobeiras e vinhas.
Nos séculos XIX e XX este território voltou a sofrer intervenções profundas, particularmente com a Campanha do Trigo do Estado Novo (1928-1938), iniciativa lançada com o objectivo de incentivar o cultivo de trigo, que se prolongou durante décadas e que contribuiu para a sua desarborização quase total e consequente degradação ecológica, dando origem a solos ainda mais empobrecidos onde, hoje em dia, só sobrevivem as espécies mais resistentes (Corvo, 2010: 30).
Foi em meados do século XX que se atingiu, na Serra, máximos demográficos, no entanto, já não assentes nos seus recursos locais, mas numa busca de trabalho fora da Serra (migração sazonal para as mondas e ceifas no Alentejo e para a apanha de frutos secos no Barrocal e Litoral), numa lógica de ganhos complementares, tendo por objectivo a permanência e sobrevivência na Serra (Cavaco, 2010: 88).
Nas décadas de 1960 e de 1970, acentuou-se um processo de migração para o Baixo Algarve, por via da integração no mercado de trabalho em actividades como o turismo, e de emigração para países como a França e a Alemanha, o que conduziu a uma forte diminuição da população residente e a um crescente despovoamento.
O monte
A Serra encontra-se, desde tempos remotos, associada a um padrão de ocupação assente em pequenas comunidades, que tem na sua base o monte, correspondente a uma escala intermédia entre a casa isolada e a aldeia, onde residem várias famílias, ultrapassando, em meados do século passado, a dezena de fogos em alguns montes. A localização destes assentamentos aparece, muitas vezes, junto de ribeiras, a meia encosta, ou ainda em zonas de cumeada. Nesta freguesia podemos contabilizar a existência de cerca de setenta montes.
O monte corresponde a um aglomerado rural que alberga uma pequena comunidade que poderia ascender, até meados da década de 1950, a algumas dezenas de moradores, ligados ou não entre si, por laços de parentesco. Esta forma de povoamento reflecte um território de recursos escassos, que se traduz numa arquitectura caracterizada pelo predomínio de um piso de paredes de alvenaria de xisto, chão de lajes de xisto, beirado com telhas sobre esteira de canas, numa lógica de aproveitamento dos materiais locais ou produzidos na Serra, sobretudo até finais do século XIX (Costa, 2010: 68).
A maior parte das habitações era composta por dois ou três compartimentos (casa de fora, casa do fogo e casa de dentro) e complementada pelas dependências agrícolas: palheiros e ramada ou arramada, termo comum no léxico dos habitantes da Serra. Frente à habitação, acrescia ainda um espaço exterior, marcado pela presença do forno de pão e do poial. É de destacar, de igual modo, a localização do conjunto de palheiros e das eiras dos diferentes residentes, num lugar mais ou menos próximo do monte que nos transporta para uma dimensão de espaço comum, predominante até ao século XX (Costa, 2014: 82).
Algumas destas características podem ser observadas, por exemplo, em montes como Zimbral, Beliche de Cima e Corte Besteiros, que conservam ainda construções mais periféricas, como os palheiros de planta circular.
As pessoas
O quotidiano destas comunidades decorria em redor dos montes, numa área de recursos que os habitantes locais designam por limites do monte , correspondente ao território que pertencia a todos os seus habitantes (Costa, 2014: 339).
Os limites do monte integravam as linhas de água e as encostas favoráveis à prática das actividades agrícolas distribuídas por várias parcelas, regadas a partir de pequenos poços, numa lógica de policultura onde predominavam as leguminosas e outras hortícolas tais como batata, couve, cebola, ervilha (griséu), fava, feijão, tomate e árvores de fruto, como laranjeiras, limoeiros e nespereiras (Corvo, 2010: 25).
A proximidade entre os vários montes permitiu, desde sempre, o estabelecimento de vínculos entre os seus habitantes através de relações de sociabilidade. Estes tempos encontram-se ainda muito presentes na memória dos mais idosos que, apesar de terem tido uma vida trabalhosa e difícil, a recordam com muita saudade e, com frequência, expressam memórias de momentos em que, mesmo durante os trabalhos agrícolas (na ceifa e no esbagulhar do milho, por exemplo), havia sempre tempo e disposição para cantar e conviver com alegria.
Este convívio acontecia também nos momentos de lazer que ocorriam, por exemplo, nos bailes organizados em vários montes, aos quais acorriam muitos moradores, mesmo que tal implicasse percorrer vários quilómetros a pé para ir ao baile dançar.
O presente
No presente, embora o despovoamento dos montes se assuma enquanto realidade, os laços familiares sustentam esta ligação à Serra, conforme destaca Bastos (1991:113-114): “Ontem, como hoje, a partida não significava necessariamente o abandono do monte (…) a partida era, e é, um meio de assegurar essa difícil sobrevivência (…) os laços de parentesco, de emoção e de ligação à terra, continuavam no monte”. Efectivamente assim continua a ser.
A Serra é lugar de regresso ao fim de semana para a visita aos familiares e lugar onde as actividades de ligação à terra são uma prática de lazer, para alguns dos que se encontram aposentados das profissões que exerceram no litoral, ou até noutras regiões e países.
É, em alguns locais, lugar de projectos de restauro e de reconstrução de habitações que foram herdadas e, em certas situações, compradas.
É lugar de convívio e de degustação da gastronomia local e de valorização dos seus produtos, à mesa nos cafés e nos restaurantes existentes em alguns montes e aldeias.
A Serra é, cada vez mais, lugar de lazer e de recreio em espaço natural: de passeio, da prática de caminhadas e de várias actividades desportivas.
O futuro
O futuro da Serra será muito provavelmente diferente do seu passado, desejavelmente multifuncional, plural, noutros moldes cujos contornos desconhecemos ainda.
Nesta visão para o futuro, o respeito e a valorização do conhecimento construído e transmitido pelos habitantes que cá viveram ao longo dos séculos, sobre o que sabem da natureza e como com ela se relacionam, deverá constituir uma prioridade e estar presente em algumas das possibilidades de desenvolvimento de novas actividades ambientais, culturais, económicas e sociais que os que cá habitaram e habitam gostariam de ver florescer.
Que o futuro permita à Serra Algarvia acolher novos residentes, de diferentes faixas etárias, visitantes do Litoral e do Barrocal do Algarve e de outras regiões e países. É este o nosso desígnio.